Recuperação nas cotações do algodão

Após as fortes quedas no início da pandemia na esteira da derrocada dos preços do petróleo e da preocupação em relação ao enfraquecimento da demanda, que levou a cotação do algodão para os patamares mais baixos desde junho de 2009, o valor da pluma voltou a se recuperar em Nova Iorque e atualmente oscila ao redor de cUSD 64/lp, níveis próximos aos observados antes da eclosão da Covid -19.

Além da recuperação parcial dos preços do petróleo, a revisão para baixo das condições da lavoura nos Estados Unidos (problemas climáticos, furacões, etc) e o aumento das compras chinesas do produto americano ajudam a explicar parte dessa alta. Adicionalmente, a combinação entre o aumento de liquidez no mundo – a reboque das políticas de estímulos às economias na grande maioria dos países – e do enfraquecimento do dólar, fez com que os fundos adotassem posições pesadas nos mercados agrícolas, incluindo o algodão. Atualmente, os fundos de hedge possuem a maior posição comprada líquida desde outubro de 2018.

No Brasil, a recuperação das cotações também foi influenciada positivamente pela desvalorização do real. Com isso, os preços em Primavera do Leste, por exemplo, voltaram a ser cotados ao redor de R$ 100/@. Além disso, para a safra 20/21, as paridades de exportação sugerem preços acima de R$ 110 /@.

É válido salientar também que uma das preocupações que tínhamos, que dizia respeito à quebra de contratos firmados antecipadamente, até o momento não se materializou. Até foram noticiados alguns atrasos de embarques, mas não afetaram sobremaneira as exportações e os fluxos de pagamentos aos produtores. Como ficam as margens dos produtores?

Diante dessa recuperação das cotações da pluma, as margens esperadas pra o próximo ano safra (20/21) voltaram a melhorar em relação ao cenário desenhado durante a fase mais aguda da pandemia. Merece destaque também o avanço das cotações do caroço de algodão impulsionados pela elevação do farelo de soja.

De acordo com as nossas estimativas, para a região Sudeste do Mato Grosso, por exemplo, a combinação entre níveis de preços que são possíveis de serem fixados atualmente e o aumento de custo esperado – a reboque da desvalorização cambial – ainda a possibilita a fixação de uma margem agrícola na casa de 36% na safra 20/21, próxima aos níveis esperados na safra 19/20. De acordo com o IMEA, 80,6% da produção de pluma da safra 19/20 no MT já foi comercializada.

Oque os fundamentos nos dizem?

As perspectivas ainda apontam para mais um ano safra de excesso de produção em relação à demanda global. De acordo com o USDA, apesar de ser esperado uma redução da área plantada em vários países produtores da pluma, tal queda será insuficiente para trazer o mercado para um novo equilíbrio.

As estimativas do órgão apontam que a produção global deverá somar 25,6 milhões de toneladas na safra 20/21, queda de 3,6% no ano, e a demanda totalizará 24,5 milhões de toneladas, assumindo um forte crescimento do consumo de 10,3% sobre o ano anterior.

Com isso, os estoques de passagem devem alcançar os mais altos níveis desde a temporada 2014/15. Além disso, quando olhamos o mercado sem a China, o nível de estoques no mundo deve ser o maior já registrado. Outro ponto de atenção diz respeito ao petróleo. Isso porque, caso haja uma queda de seus valores, a fibra sintética deverá ganhar competitividade e pressionar as cotações do algodão. Um evento como esse poderia ocorrer, por exemplo, oriundo de uma segunda onda de medidas de contenção da proliferação do coronavírus, como as que já tem sido ventiladas em alguns países da Europa e Israel.

Além disso, quando voltamos os olhos para o Brasil, apesar de esperarmos uma recuperação da economia no próximo ano, a base baixa de partida para tal crescimento atrelado à expectativa de elevado nível de desemprego (o Itaú BBA projeta uma taxa média de desemprego de 16,3% em 2021) deve se traduzir em um nível de renda disponível ainda baixo. E isso, por sua vez, tende a afetar a demanda nacional por produtos têxteis.

Gestão de riscos

Diante dos níveis de margens possíveis de serem fixados e tendo em vista o risco para a manutenção dos patamares atuais das cotações, é recomendável que o produtor no Brasil fique atento às oportunidades de mercado para se proteger desses possíveis ventos contrários às cotações.  Isso é válido especialmente para aqueles produtores que já adquiriram os insumos sem o devido travamento de preços e que dependem do resultado operacional do algodão para fazer frente aos compromissos assumidos antecipadamente.

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